quarta-feira, 3 de junho de 2009

Ciência e Rock and Roll.



Você que nasceu 10.00 anos atrás, quantas vezes viu o Halley?
Eu vi quando era pequeno. Sou muito ligado a metafísica. Não leio romances, só tratados; a metafísica e a filosofia são fascínios meus.

O Halley é um sinal do apocalipse?
O halley vai reestruturar o toteísmo. Esse papo de apocalipse é um pouco hippie, o Halley vai é causar uma mudança metafísica. Quando uma folha cai de uma árvore, modifica o curso do planeta, porque uma formiga pega aquela folha e sai andando com ela, aí vem o leão e come tudo. Mas o leão é de um circo, e o circo tem dono, e o dono do circo também... enfim, tudo está sempre em contínua modificação. As pessoas sempre buscam ídolos, o cigarro é um ídolo, ler um livro é um tótem.

O Halley te inspira canções?
Acabei de fazer o "Senhor da Guerra", com a Lena Coutinho.

O que move o mundo?
O coração.

O que pára o mundo?
O medo. Medo de fazer as coisas, medo da loucura, medo de ser gente.

Você tem medo de morrer?
Nenhum, sem religiões nisso. Cigarro é morrer, ouvir disco é morrer. O que você gosta mais, ir ao cinema ver um filme ou se preparar para sair? Eu sempre sento na primeira fila para não ver o resto.

A guerra é inevitável ou a paz é possível?
A guerra é inevitável. A guerra traz coisas boas. Eu, por exemplo, sou pós-guerra. Com Hiroxima começou o rock and roll.

O que é rock and roll?
É um modo de ser, de agir, e abrange todos os setores culturais. Era proibido levantar a gilada camisa, aí minha mãe falava: "Menino, abaixe a gola". Eu saía, fechava a porta e levantava a gola. Rock é todo um comportamento, descartável não é rock.

E o cometa Halley?
Ele vem e vai passar. Vem do absoluto o elsewhere, o algures absoluto, e vai modificar totemicamente a sociedade. Vai passar como aquela folhinha que a formiga pega, que o leão come e tal. O Halley vem para ganhar, porque é um enduro.

Enduro cósmico?
Depende do conceito de infinito.

Quais são seus canais para o infinito?
Eu faço exercícios e levo a vida como uma coleção de momentos. E cada momento pode ser um canal. É impossível coagular tudo junto.

Teu canal é musical?
Eu sou um cientista, quero lidar com meus tubinhos de ensaio. Eu faço música, canto bolero num show de rock, rock no show do jantar. Misturo as coisas, e no fim sai um elixir paregórico fantástico. Eu vou para onde for, onde sei que gostam de mim, vou por meu espírito cavador. Sou um cientista arqueólogo.




Guia do Halley, edição histórica 1985
Entrevista com Raul Seixas.